quarta-feira, 13 de junho de 2012

UM ESPAÇO ACOLHEDOR


                 O respeito e a solidariedade, princípios éticos, revelam-se nos pequenos gestos do cotidiano, em todos os espaços sociais. O reconhecimento da existência dos outros, na atenção e no acolhimento que damos a eles, proporciona alegria e estimula ações positivas. Na escola, a atitude receptiva dos gestores aos que fazem parte da comunidade gera benefícios nem sempre percebidos, mas que conduzem a resultados gratificantes, principalmente relacionados ao desempenho dos estudantes.
    Ainda que se diga que tem diminuído o interesse pela escola e que a Educação que nela se oferece não vai ao encontro das necessidades e dos desejos dos que a freqüentam, para boa parte das famílias e dos alunos esse é um espaço respeitado e em relação ao qual se cria uma expectativa de aprendizagem e crescimento. Em algumas localidades, a escola representa, mesmo, o único lugar em que é possível ter uma experiência cultural e comunitária mais abrangente. Preparar-se para essa vivência constituiu quase um ritual: Roupa limpa, cadernos bem cuidados, mochila arrumada. Mas os gestores têm para com a escola a mesma preocupação? Será que eles se organizam para receber seu público de modo acolhedor, preocupando-se não apenas com o trabalho relacionado ao conteúdo das disciplinas, mas também com gestos e palavras que expressam cuidado e respeito?
   Por exemplo, ouvir com atenção as observações que os estudantes fazem e, por vezes, recepcioná-los no portão de entrada. Da mesma forma, tratá-los pelo nome, ficar alerta a mudanças de comportamento e fazer comentários positivos quando eles superam uma dificuldade. Todas essas são atitudes importantes, ainda que possam parecer irrelevantes para alguns educadores, não raro absorvidos pelas múltiplas tarefas diárias.
           Gestos, algumas vezes, dizem mais do que palavras. Uso sempre o exemplo de minha mãe, que gostava muito de receber as pessoas em nossa casa. Ela se preocupava enfeitar os espaços, espalhar vasos de flores e usar xícaras bonitas para servir o café-que era em geral acompanhado de uma deliciosa broa de fubá.
  O café e a broa de dona Zizi eram famosos: parece que a conversa ficava mais animada e o ambiente mais aconchegante quando eles eram servidos. Eram parte de um jeito de acolher que fazia as pessoas se sentirem bem-vindas e quererem voltar àquela casa. E não eram necessárias faixas de boas-vindas na porta nem que minha mãe saísse dizendo ás pessoas, por meio de palavras, que gostava de recebê-las. Ela falava com os gestos. Era o carinho expresso no sorriso, no afago com as mãos, no café com broa.
    Penso que algo análogo acontece quando a equipe gestora está atenta ao acolher a comunidade e estimula essa atitude entre professores e funcionários, provocando, com isso, uma reação de natureza semelhante nos alunos e nas famílias. Isso não é algo romântico, embora possa ser difícil de ocorrer no cotidiano (á vezes, duro e esgotante) da escola ou das relações familiares e comunitárias. Mas é um desafio que vale enfrentar. Pela satisfação individual, do professor, do gestor e do aluno e, sobretudo, pela possibilidade de contribuir para o bem de todos- ás vezes, esquecido, mas fundamental na vida social. 

Fonte: Gestão Escolar, Ano 3 Nº15

terça-feira, 12 de junho de 2012

SOLUÇÕES PARA NÃO PECAR NA REUNIÃO PEDAGÓGICA

                       Pergunte a qualquer diretor ou coordenador pedagógico: “A sua escola tem horário reservado para a formação de professores?” Dificilmente a resposta será negativa. Contudo, se esse assunto for investigado com um pouco mais de critério, é possível, Perceber que esses momentos de interação entre o coordenador pedagógico e o  corpo docentes, tão importantes para a melhoria da pratica em sala de aula e, conseqüentemente, o processo de ensino e aprendizagem- não se realizam como deveriam. Em 2009, o estudo Práticas Comuns à Gestão Escolar Eficaz, realizado pela Fundação Victor Civita, acompanhou o horário de trabalho pedagógico coletivo (HTPC) em 15 escolas estaduais e municipais do Estado de São Paulo. Em 11 delas, os assuntos tratados estavam longe de ser pedagógicos. A frequência desse erro faz muita gente apelidar o tempo das reuniões, debochadamente, de “horário de Trabalho perdido coletivo”.
        As equipes NOVA ESCOLA GESTÃO ESCOLAR, NOVA ESCOLA e do site foram conferir esse dado entre maio e julho do ano passado, ao investigar como eram organizados os encontros chamados de formação em escolas de 17 cidades das cinco regiões brasileiras. O resultado mostra que muitos gestores até acreditam fazer um bom trabalho. Contudo, alguns deslizes na organização - ou na falta dela – comprometem até mesmo as melhores instituições. Listamos aqui, os setes pecados capitais:
  • Participação facultativa
  • Ausência de regularidade
  • Falta de plano anula de formação
  • Indefinição de pautas
  • Inadequação do espaço
  • Uso de atividades de motivação
  • Dispensa de alunos
        “A importância que a escola dá ao trabalho pedagógico coletivo revela a concepção que o grupo tem sobre o papel docente: o professor deve entrar e sair da sala de aula sem planejar as aulas nem avaliar o trabalho com os pares? Ou é imprescindível que ele reflita e troque experiência com os colegas sobre as práticas docentes? questiona Regina Scarpa, coordenadora pedagógica da FVC.
          Para que a formação na escola aconteça de verdade, é preciso acabar com todos os equívocos listados acima e investir na formação permanente do coordenador pedagógico, o responsável direto por essa função. “Quem ocupa esse cargo também precisa de capacitação constante, acompanhamento e apoio”, afirma Telma Weisz, educadora e doutora em Psicologia Pela universidade de São Paulo.
        Para tanto, é valido buscar ajuda na Secretária de Educação e em instituições parcerias que atuem cidade. O único cuidado a tomar, nesse caso, é não deixar que formadores externos substituam o interno. ”O especialista pode ajudar trazendo informações sobre pesquisas recentes. Contudo, é o coordenador pedagógico que deve ser o par mais experiente do grupo, o interlocutor que leva á reflexão sobre prática e o responsável pela aprendizagem dos alunos”, aponta Beatriz Gouveia, coordenadora de projetos do Instituto Avisa, em São Paulo.
        A dedicação coletiva de algumas horas semanais para estudo é, inclusive, um direito dos profissionais da Educação e uma forma de valorizá-los prevista na lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), de 1996. Já o Plano Nacional de Educação (PNE) De 2001, recomendou reservar de 20 a 25 % da jornada para o aperfeiçoamento fora de sala de aula- e o próximo PNE, ainda em tramitação no congresso Nacional, tem entre suas principais diretrizes a formação em serviços. Outra tentativa de tornar o HTPC obrigatório foi a lei do piso salarial do Magistério, de 2008, que propunha um terço da carga horário para atividades extraclasse. Porém esse artigo não entrou em vigor e está em apreciação judicial. Se implantada, a medida destinará 33% da jornada para a realização de projetos, individual, correção de provas e a tão necessária formação coletiva.
Enquanto a regulamentação não vem, é indispensável conferir se o horário reservado ao trabalho pedagógico coletivo é bem utilizado e tomar medidas para evitar os sete pecados listados a seguir, fazendo da formação uma ferramenta eficiente no planejamento e na avaliação das atividades escolares.

           1. PARTICIPAÇÃO FACULTATIVA
  
O QUE ACONTECE: A escola não obriga os professores a comparecer aos encontros de formação, pois:
§       A rede não paga pelos horários de estudos  coletivo
§       Os docentes trabalham em mais de uma escola
§       A prioridade é dada ás tarefas individuais (como corrigir lição de casa), em detrimentos das coletivas.

    POR QUE É UM ERRO: Se alguns docentes participam da formação e outros não, o ensino na escola não se desenvolve como um todo: os alunos dos professores que vão atrás da formação aprenderão, enquanto os outros, não. Também não há troca de experiências ou aperfeiçoamento de estratégias. ”O trabalho pedagógico   pede um esforço conjugo para o planejamento de maneiras eficazes a fim de que os alunos avancem.Caso contrário, há um empobrecimento do currículo e dos processos didáticos”,diz Inês Assunção de Castro Teixeira,pesquisadora,socióloga e professora da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais(UFMG).

  COMO CORRIGIR: Se o problema é o não- pagamento das horas de formação, a categoria tem como direito de pedir a regulamentação junto á Secretaria de Educação.Até que haja mudanças, é preciso buscar alternativas, como montar um calendário que preveja encontros regulares do coordenador com os professores, agrupados por série,Ciclo ou disciplina- que também resolvem o problema quando parte da equipe não cumpre jornada integral. Contudo, se os docentes são dispensados, os gestores precisam rever seus conceitos sobre a qualidade do ensino e procurar capacitação.


  2. AUSÊNCIA DA REGULARIDADE DAS REUNIÕES

  O QUE ACONTECE: Às vezes, o problema da obrigatoriedade é solucionado, mas não existe periodicidade para os encontros por que:
                  
  • As reuniões não estão previstas no calendário
  • Os encontros,quando marcados,são cancelados
  • A equipe só se reúne quando há alguma urgência

       POR QUE É UM ERRO: É impossível desenvolver uma seqüência formativa bem encadeada quando os encontros ocorrem de vez em quando. “Sem regularidade, o coordenador pedagógico não consegue acompanhar o uso das estratégias para ver se elas estão dando resultados e dar retorno para o grupo a tempo de fazer os ajustes necessários no planejamento”,diz Marisa Garcia,professora no Instituto Superior de Educação vera Cruz (Isevec), em São Paulo.

          COMO CORRIGIR: É imprescindível que o coordenador monte um cronograma prevendo a freqüência do trabalho pedagógico coletivo e respeite-o. Encontros semanais ou quinzenais, com duração mínima de duas horas, são o ideal.

    3. INEXISTÊNCIA DE PLANO ANUAL DE FORMAÇÃO

    O QUE ACONTECE: Ainda que os encontros sejam freqüentes, o deslize aparece quando os temas não têm progressão ou conexão uns com os outros ou tratam de assuntos sazonais, como Copa do Mundo ou gripe H1N1. Isso acontece por que:
  • Falta formação para o coordenador ser formado.
  • Os profissionais não têm tempo de planejamento e instala-se a cultura do improviso na escola.

  POR QUE É UM ERRO: O planejamento e o encadeamento dos encontros garantem o desenvolvimento progressivo dos conteúdos. Um tema só é bem trabalhado quando os professores estudam juntos,pesquisam,usam os novos conhecimentos em sala de aula, voltam com dúvidas para debater com o coordenador e os colegas e utilizam com os alunos, em várias oportunidades, as estratégias estudadas.

 COMO CORRIGIR: O planejamento deve ser feito com base em dois pontos: o diagnóstico da aprendizagem dos alunos e o histórico da formação de professores realizada na escola. O primeiro aponta os conteúdos a serem estudados a serem estudados (aqueles em que os alunos apresentam dificuldade). Já o segundo mostra como o grupo pode avançar e que, de acordo com a rotatividade de professores, certos temas podem ser retomados ou tratados em orientações individuais. Nesse sentido, é fundamental que os encontros sejam registrados.

                      4. INDEFINIÇÃO DE PAUTAS

       O QUE ACONTECE: O coordenador pedagógico pode até fazer um plano de formação, mas peca na condução dos encontros e se deixa atropelar por temas que não se relacionam com a prática de sala de aula. Isso geralmente ocorre quando ele:

§               Esquece as necessidades de aprendizagem dos alunos ao organizar cada reunião.
§               Detecta as necessidades, mas não estuda os conteúdos nem as didáticas específicas.
§               Deixa que os docentes falem aleatoriamente sobre suas experiências sem relaciona- las ás teorias.
§               Tenta dar conta de muitos assuntos e não se aprofunda em nenhum deles.
§               Fala sozinho durante todo encontro, sem promover a interação entre professores.
§               Utiliza o tempo disponível para divulgar informes oficiais e administrativos.

       POR QUE É UM ERRO: Se a reunião não estiver organizada de forma a prever todos os momentos necessários á boa formação- como um tempo para leituras, apresentações e análise de casos á luz das teorias, debate entre os participantes e solução de dúvidas-, não será eficaz.

    COMO CORRIGIR: O tempo da formação deve ser reservado apenas para os assuntos pedagógicos- temas administrativos podem ser tratados em reuniões específicas para esse fim ou por meio de bilhetes e e-mails. Cabe ao coordenador não deixar que a conversa durante a reunião perca o foco.È função do diretor assegurar que o coordenador tenha tempo para planejar adequadamente o HTPC
.
               5. INADEQUAÇÃO DO ESPAÇO.

     O QUE ACONTECE: Não basta ter pautas bem planejadas e relacionadas com a prática pedagógica se os encontros de formação são realizados em locais tumultuados, como a secretaria da escola, ou em salas inadequadas. Os problemas com o espaço em geral surgem quando:

§               A escola é pequena e não há sala para reuniões.
§               Não há planejamento para o uso dos ambientes escolares e, na hora da reunião, arranja – se um local qualquer, com mobiliário improvisado (mais uma vez, a cultura do improviso ditando as regras).

        POR QUE É UM ERRO: O espaço influencia o andamento e a progressão dos trabalhos. Sem um conforto mínimo, os professores certamente terão dificuldade em se concentrar e fazer registros.

       COMO CORRIGIR: É certo que aparelhos como computador e data show auxiliam na explanação e exemplificação dos assuntos abordados. Mas uma sala tranqüila, com mesas e cadeiras apropriadas, e um quadro negro, ou flip – chart também resolvem. Pode ser a sala dos professores ou mesmo a biblioteca. O importante é criar um espaço que convide o professores a ler, estudar, escrever, pensar e discutir com os colegas. Uma bandeja com café e água também ajuda a acolher os participantes Flip - chart, também resolvem. Pode ser a sala dos professores ou mesmo a biblioteca. O importante é criar um espaço que convide o professores a ler, estudar, escrever, pensar e discutir com os colegas. Uma bandeja com café e água também ajuda a acolher os participantes.

             6. USO DE ATIVIDADES DE MOTIVAÇÃO.

         O QUE ACONTECE: Ás vezes, a gestão do tempo e do espaço é bem feita, mas os encontros são recheados com literaturas para emocionar ou transmitir lições de moral; encenação de peças teatrais; apresentação de canções e proposta de pinturas e desenhos que nada têm a ver com a prática pedagógica; desabafos sobre fatos do dia a dia; palestras com profissionais que promovem a autoajuda; atividades em que os professores são desafiados a dar respostas certas e recebem prêmios;e uso de textos motivacionais.Isso ocorre porque:

§         Os gestores não compreendem que tais atividades não melhoram de fato a prática pedagógica.
§         Há confusão entre o que são questões pedagógicas e profissionais e o que são questões pessoais.

          POR QUE É UM ERRO: Atividades motivacionais podem divertir e aliviar a tensão, mas não se refletem na compreensão dos docentes Sobre o que ensinar nem promovem benefícios concretos para os estudantes. “Não há reflexão produtiva sem considerar os conhecimentos prévios, didáticos e pedagógicos da equipe”,diz Beatriz Gouveia.

         COMO CORRIGIR: Os gestores devem refletir sobre como as atividades desenvolvidas no horário de trabalho pedagógico coletivo incidem no processo de ensino e aprendizagem: o professor aprendeu conteúdos?Tirou dúvidas sobre como ensinar?Trocou experiências relacionadas á prática? A ampliação do repertório cultural também deve ser levada em consideração, não como a troca de mensagens motivacionais, mais com boas indicações de leitura e filmes e incentivo ao acompanhamento da cultura local.

                7. DISPENSA DE ALUNOS.

       O QUE ACONTECE: Ainda que os deslizes anteriores tenham sido evitados, na hora das reuniões os alunos não têm aulas- ou voltam para casa ou ficam soltos pela escola. Em geral, isso acontece por que:
§         Os professores precisam participar da formação continuada no horário de aula, pois não recebem pelas horas de estudos.
§         Não há professores auxiliares ou outros profissionais que desenvolvam alguma atividade ou projeto enquanto os docentes estudam.

          POR QUE É UM ERRO: O aluno tem direito a ter os 200 dias letivos de aulas por ano e qualquer subtração nesse total significa a perda de momentos importantes para a aprendizagem e o prejuízo no andamento do currículo. Quando os alunos permanecem na escola sem nenhuma proposta e supervisão, professores e gestores não encontram   condição adequadas para estudar, já que muitas vezes são interrompidos pela bagunça ou para solucionar problemas entre as crianças e os adolescentes.

       COMO CORRIGIR: Assim como falta de obrigatoriedade, a dispensa de alunos pode estar relacionada á não- regulamentação da formação em serviço. Nesse caso, o ideal também é buscar a oficialização do horário. Como medida provisória, é possível pedir que professores auxiliares ou funcionários da escola fiquem com os estudantes durante a reunião. ”Projetos jogos ou leitura são educativos e, por isso, sempre bem-vindos. E toda a equipe pode receber capacitação para desenvolvê-los”, sugere Beatriz Gouveia.

Fonte:Revista Gestão Escola, Ano 3-Nº12-Fevereiro/Março 2011

terça-feira, 9 de novembro de 2010

A GESTÃO ESCOLAR E SEUS DESAFIOS


          Enquanto agentes e educadores imbuídos do desejo peculiar na análise do comportamento de gestores no tocante ao ensino-aprendizagem, convém ressaltar que o conhecimento é imensurável dentro do contexto da metodologia do ensino e da visão clientelista a que muitos estão de certa forma submetidos.

          Por outro lado, a revisão de certos conceitos acadêmicos faz com que diretores (as), supervisores (as), e pedagogos (as) e outros se sintam de alguma forma desmotivados (as) quando na implantação de uma metodologia didática estruturante, tendo-se em vista o que foi exaustivamente debatido durante a longa jornada em sala de aula.

          Uma vez amplamente discutido e de alguma forma, tendo como primeiro plano o riquíssimo acervo bibliográfico, fonte do aprendizado e da experiência adquirida é imperioso que o profissional em questão reoriente a sua caminhada com respeito ao compromisso ora assumido.

          Nesse prisma a Educação deve ser encarada como um desafio constante na busca de novas oportunidades e ferramentas ideais na inserção do conteúdo programático e, que deverá estar coerentemente embasado na normatização em vigor e/ou àquilo que a próprio ensino deixa como legado aos profissionais da área.

          Contudo, necessário se faz romper paradigmas e analisar, planejar e desenvolver projetos pedagógicos que sirvam não como fundamento utópico. A Educação deve ser repensada de forma crítica, sem o deslumbramento inicial e ingênuo de que obstáculos a serem transpostos terão pouca ou nenhuma dificuldade.

          Convém reconhecer o papel do gestor escolar como de fundamental importância não apenas como coordenador de uma instituição, mas, sobretudo como dinamizador das atitudes e do comportamento de todos que o cercam. É imprescindível antever os mecanismos disciplinadores que são o fortalecimento desse elo tão importante na definição das metas diárias que representa o vetor principal do projeto pedagógico da própria escola.

          Sensato seria termos uma Educação justa e que desenvolvesse o senso de equidade de seus membros, formando um ser humano com a auto-estima elevada, crítico, consciente, digno, engajado, solidário, dinâmico, participativo, habilidoso, qualificado, responsável, respeitador e espiritualizado, enfim.

          Esta Educação tão debatida deve ser vista e revista como um processo comum do ser íntegro e integral, que dê valor aos pequenos talentos e progressos e, que trabalhe com conteúdos significativos e, substancialmente, que jamais deixe de buscar meios interessantes para executar todas essas tarefas para muitos vistas como dispendiosas.

          A Educação ideal é aquela que desenvolve habilidades, aquela cuja pedagogia funda-se na união e cooperação porque educar implica em inserir a escola na sociedade, discutindo as interferências de uma para a outra e, também decidindo quais são efetivamente os conteúdos pertinentes a serem trabalhados e de que forma isto poderá ser feito.

          Abrir espaços pedagógicos para abordar de fato a nossa cultura nacional, nada mais é que uma questão ética e que precisa estabelecer-se na própria escola, aquela que se revela contra as manifestações discriminatórias de raça, gênero, classe, cultura, credo, dentre outros e, melhor, de dentro para fora.

          Apesar deste enfrentamento com a realidade, a presente expectativa de reconhecermos a dimensão histórico-cultural (sempre inacabada) do próprio processo de aprendizagem da história da humanidade, é fato notório. Esta “realidade” do mundo e do homem – não pode ser mais analisada sob o ponto de vista linear, face à uma visão essencialmente antropológica.

          É preciso reconhecer as contradições que mobilizam os homens, a história e a cultura dentro dessa realidade. Portanto não se trata de ordenar e classificar os fragmentos de histórias, mas, reconhecer os bastidores deste cenário, apontando limites e desafios.

          Portanto, através desses conhecimentos adquiridos, interessante se faz observar que a análise da gestão escolar carece de uma realidade em que esteja explícita a auto-análise como influência do aspecto educacional.

          Até porque, mesmo com o bom trabalho desenvolvido sempre existirá uma distância da verdadeira escola-modelo, que interage com a comunidade, os profissionais da Educação, e principalmente o aluno, embasada numa filosofia que corresponda à realidade com enfoque na dinamização do ensino-aprendizagem sem as interferências de toda ordem.

          Mas, alguns aspectos necessitam ser mensurados em relação ao convívio interpessoal, no resgate do bom relacionamento, do companheirismo, e na possibilidade de se trabalhar as habilidades de todos os membros da escola.

          A reorientação das famílias é outro fator fundamental para que a gestão descubra seu papel primordial no grupo social de modo cooperativo, sendo este o ideal de verdadeiro educador.

          É importante, também, a inserção de uma gestão participativa que anule o discurso ideológico. Uma vez que de todos os segmentos escolares sobre o valor da democracia, o perfil do gestor, é o que está suscetível às críticas face às ações diárias que propõem uma visão mais próxima da realidade.

          A isto se atribui a falta de conhecimento de alguns agentes e educadores quanto ao verdadeiro significado da palavra “gestão”, e da verdadeira dimensão que isso implica dentro do universo escolar.

          Uma vez observado a diversidade de idéias, opiniões e sugestões, o gestor (a) escolar deve renunciar quaisquer atos de egocentrismo, insegurança e insatisfação que venha a ser disseminado como um “mal” aos seus subordinados, alunos, pais e comunidade  inseridos nesse contexto.

          Neste caso o diretor (a) precisa ter clareza de que sua efetiva presença deverá estar voltada para os objetivos comuns e sua postura pautada na transparência de ações, uma vez que o mesmo (a) organiza e gerencia todas as atividades da escola, evidentemente auxiliado pelos demais componentes.

          É importante que o diretor tenha a absoluta convicção da sua responsabilidade, estando, pois, apto a novos e constantes desafios sendo o sujeito vigilante e atuante na promoção de momentos de reflexão, estando aberto ao diálogo e, principalmente procurando estabelecer um conjunto de metas factíveis com a participação dos envolvidos para que a Educação de fato seja globalizada, qualitativa, humanizadora, reflexiva e formadora.

Fonte: http://recantodasletras.uol.com.br/artigos/1306945

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Cuidados com a Escola


Para que aconteça a aprendizagem na escola e haja um clima de respeito e segurança no ambiente alguns cuidados são necessários.
Na escola, tudo deve estar na mais perfeita ordem para que o aluno sinta-se valorizado e encontre no ambiente escolar a esperança de uma vida melhor, desde quem recebe o aluno no portão, até as instalações da sala de aula e outras dependências da instituição.
O preparo do ambiente escolar, tornando-o acolhedor, agradável e bonito aos olhos de todos, é uma ação pedagógica de responsabilidade do gestor da instituição.
Muitas escolas se encontram em estado físico tão destruído e mal cuidado que os alunos não sentem atração alguma pela mesma.
Imagine-se no lugar desses alunos, chegando a uma sala de aula com carteiras quebradas, pintura descascada, pouca iluminação, goteiras, dentre outros tantos pequenos problemas. Será que teria disposição e motivação para passar cinco horas do seu dia num local assim? Quais os valores da educação se não se pode estudar numa escola bem cuidada, limpa e bonita?
A aparência física da escola é importante para o aluno, pois esses cuidados demonstram que a direção da escola, ou seja, o gestor escolar, se preocupa em manter um clima de respeito aos alunos, sendo responsável pela parte educativa que cabe à diretoria da escola a apresentação física da mesma.
Além disso, a estruturação da grade curricular, o acompanhamento dos trabalhos dos professores, reuniões pedagógicas do corpo docente e administrativo, etc. são partes do processo de aprendizagem de responsabilidade do gestor, elementos que não podem faltar.
Em se tratando de escolas públicas, a depredação deve ser trabalhada com a comunidade. As pessoas precisam aprender que o público é algo de todos e, portanto, para o bem-estar das pessoas que moram naquela região. Se eles mesmos são tratados com desrespeito, com prédios mal cuidados e sem estrutura, sentirão que aquela escola não promove uma educação de qualidade. Afinal, uma coisa está relacionada com a outra, é a pura questão da motivação.

Por Jussara de Barros
Graduada em Pedagogia
Equipe Brasil Escola
Fonte: http://www.educador.brasilescola.com/gestao-educacional/cuidados-com-escola.htm

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Oito ações para construir uma escola leitora

Garantir acesso a bons livros e criar um ambiente em que a leitura é rotina são maneiras eficazes de formar leitores de literatura. Veja como tornar isso realidade

1 Aproveite os mais diversos ambientes
PORTAS ABERTAS Sem lugar para o acervo, a EM Ivo de Tassis usa armários nos corredores. Foto: Jane Freitas Rocha


Não é por falta de sala exclusiva que o acervo deve ficar encaixotado. "Já vi bibliotecas em corredores e até na entrada do banheiro", diz Celinha Nascimento, mestre em literatura brasileira e assessora de escolas públicas e particulares. Entre 2001 e 2009, Anália Fagundes Felipe foi diretora da EM Ivo de Tassis, em Governador Valadares, a 315 quilômetros de Belo Horizonte, e usou um carrinho para facilitar o contato com os livros. Ele passava nas salas e ficava no pátio durante o recreio (as professoras de leitura cuidavam do empréstimo). Depois, a equipe gestora instalou armários nos corredores, com portas que se abrem nos intervalos. "O espaço foi batizado pelas crianças de Ivoteca, em referência ao nome da escola", conta Anália. Perto das prateleiras, há murais com indicações dos títulos mais retirados, dados sobre os turnos que mais buscam obras - incentivando uma saudável competição - e dicas literárias feitas pelos alunos. Outra dica é decorar paredes com poemas, trechos de livros e dados sobre os autores.

2. Invista na organização do acervo
Para garantir que as obras transformem a maneira como crianças, jovens e adultos se relacionam com a literatura, não basta alinhá-las nas estantes da escola. Se o leitor precisa percorrer longas prateleiras sem entender a ordem dos livros, a busca pelo título desejado fica desanimadora. Uma das estratégias para fugir desse problema é separar as obras em literatura infantil, juvenil e adulta - bem como por tema, autor ou gênero. Uma boa inspiração é pensar em como funcionam as livrarias. Assim como elas usam estratégias para incentivar a compra, sua escola pode copiar o modelo com o objetivo de atrair leitores: expor logo na entrada os volumes mais retirados em determinado período, destacar as novidades em murais ou jornais internos, montar caixas com os livros divididos por faixa etária e colocá-las em locais de fácil acesso e deixar tudo sempre ao alcance dos estudantes - as prateleiras baixas, com itens para os pequenos, e as mais altas, para os mais velhos. "Muitas vezes, encontramos coisas maravilhosas e raras quando investimos em uma boa organização", afirma Celinha Nascimento.

3 Busque maneiras de ter (mais) livros
SEM MEDO DE USAR  Na EMEIEF Carlos Drummond de Andrade, os livros vão até mesmo ao jardim. Foto: Luciana Cavalcanti/Paralaxis
Toda escola tem direito a um acervo variado e atualizado. Desde 1997, o Ministério da Educação (MEC) fornece, por meio do Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE), livros de literatura para as instituições públicas. Algumas Secretarias de Educação contam com projetos semelhantes: no Rio de Janeiro, gestores e professores estaduais recebem dinheiro para atualizar o acervo durante o tradicional Salão do Livro. Em Santa Catarina, alunos do Ensino Fundamental ganham da Secretaria Estadual títulos de autores brasileiros. Se o acervo de sua escola está há muito tempo sem ser renovado, os especialistas sugerem organizar campanhas de arrecadação junto à comunidade ou solicitar doações a livrarias. Nesse caso, é preciso ficar atento ao que chega para escolher apenas o que tem qualidade literária e é, de fato, interessante
para os alunos.

4. Faça os livros circularem
Receio de que a capa estrague, as páginas se soltem ou o exemplar desapareça - eis algumas das inquietações que afligem os gestores. Antes de tudo é bom lembrar que, como todos os bens de consumo, os livros têm vida útil e, mais cedo ou mais tarde, precisam ser repostos. Por isso, nenhuma dessas preocupações pode impedir que os livros cumpram sua função: passar por alunos de todas as idades e chegar à comunidade. A equipe gestora da EMEIEF Carlos Drummond de Andrade, em Santo André, na Grande São Paulo, permite que as professoras levem exemplares para o jardim para que as crianças ouçam histórias e leiam num ambiente descontraído. Camila de Castro Alves Teixeira, da central pedagógica da Comunidade Educativa Cedac, em São Paulo, sugere campanhas educativas para ensinar os usuários a preservar os livros. Mais produtivo do que temer perdê-los é investir no controle de retirada (com programas de computador ou cadernos de registro). Um exemplar pode não ser devolvido por esquecimento ou porque o aluno quer ficar com ele. Discutir os direitos e deveres da vida em sociedade e elaborar regras de uso do acervo - prevendo a possibilidade de renovar o empréstimo da obra - pode ser um caminho. Mesmo as punições - sem exageros, por favor - são necessárias: enquanto não houver a devolução do livro atrasado, o usuário pode ficar impedido de realizar novos empréstimos.

 Fonte: http://revistaescola.abril.com.br/gestao-escolar/diretor/quatro-acoes-subsidiar-professor-eventual-substituicao-590700.shtml?page=0




quarta-feira, 23 de junho de 2010

GESTÃO E PEDAGOGIA




Professora Rosangela Maria Baldessar

Gerente de Ensino Fundamental

Secretaria da Educação e Cultura

Otacílio Costa





Melhorar a qualidade da educação no Brasil exige profundas mudanças na forma de conceber e operar as Escolas e Secretarias de Educação. Se continuarmos na mesmice, os resultados não mudarão.

O Brasil ainda não entendeu o que é necessário para produzir educação de qualidade. Continuamos insistindo na tecla da expansão e dos remendos. Dois deles chamam a atenção. O primeiro refere-se aos professores. Só teremos educação de qualidade quando conseguirmos atrair para o magistério os melhores dentre os egressos do ensino médio, com perfil para educador. O outro é a gestão escolar. As Secretarias devem GESTAR a política educacional e as escolas GESTAR a pedagogia do sucesso e autonomia, sendo que, na maioria das vezes há uma inversão de papéis, ocasionando muito tempo em discussões obsoletas sem objetivo ou encaminhamentos para o sucesso escolar.

Mascarar a gravidade da situação dificilmente contribuirá para avançar na formação de consenso na área. A formação de um consenso sobre os problemas é um primeiro passo essencial para abrir os caminhos e poder trilha-los, sem que o gestor assuma sozinho a frente deste trabalho, mas sim, ao lado para interagir a política educacional com a pedagogia do sucesso.

O ensino deve ser organizado, o professor deve apresenta a matéria, explicar, servir de modelo, dar exemplos e interagir com os alunos. Revisões e a avaliação deverão ser frequentes, normalmente semanal, no máximo, mensal. O dever de casa regular, para uma pedagogia mais eficaz. Nada disso, funciona sem um professor que conheça o conteúdo, tenha o domínio da turma e a capacidade de ensinar de maneira organizada. Assegurado o conhecimento do conteúdo, o professor é tão bom quanto os métodos pedagógicos que domina.

No entanto, o diálogo, a interação poderá acontecer na inclinação das curvas e nos percalços da caminhada, rumo ao mundo desenvolvido com seus desafios e complexidades. Interação requer reciprocidade de todos os envolvidos no processo educacional; requer comprometimento, ética e atitude.

Portanto, o resgate do professor passa pela conquista do piso salarial e também urgentemente pelo resgate da tradição pedagógica que lhe compete.

sexta-feira, 12 de março de 2010

Maria Helena Guimarães: "É preciso cultivar o respeito no ambiente escolar"

Para a educadora e cientista social, normas e rituais melhoram a relação com a comunidade e podem ajudar a recuperar o valor institucional da escola.

Rever o projeto pedagógico, buscar novas tecnologias educacionais, valorizar o professor. Tudo isso é fundamental para que a escola pública volte a ser uma instituição valorizada pela sociedade. Porém, para a cientista social Maria Helena Guimarães de Castro, ex-secretária de Educação do Estado de São Paulo e do Distrito Federal, falta acrescentar um item a essa lista: o resgate de normas e rituais capazes de organizar a vida escolar e restabelecer o vínculo da instituição com a comunidade. Aos procedimentos que vão ajudar nessa revitalização da instituição de ensino - e podem, inclusive, influenciar a construção ou a consolidação da identidade da escola -, Maria Helena chama de etiqueta, fazendo uma referência ao conjunto de regras de conduta e de tratamento que é seguido em ocasiões formais e que revelam, sobretudo, o respeito às pessoas envolvidas.

Aos 62 anos, casada, três filhos e quatro netos, Maria Helena hoje presta consultoria para órgãos públicos e instituições privadas, além de atuar como pesquisadora do Núcleo de Políticas Públicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), no interior paulista. Ela falou a NOVA ESCOLA GESTÃO ESCOLAR sobre como o resgate dessa etiqueta pode favorecer o ambiente de civilidade e contribuir para melhorar os resultados alcançados nas avaliações externas.

Enquanto esteve na Secretaria de Educação de São Paulo, houve um momento em que a senhora afirmou ter percebido que a escola havia perdido a etiqueta? O que isso significa?

MARIA HELENA GUIMARÃES A escola pública passou por um processo gradual de desvalorização perante a sociedade, o que se reflete, inclusive, em situações de agressividade entre professores e alunos. Para recuperar a importância, a escola precisa se apresentar como uma instituição essencial no desenvolvimento de ações para a construção de uma sociedade melhor e mais justa. Nesse sentido, considero crucial resgatar rituais, que nada mais são do que uma sequência de atos simbólicos importantes para marcar a instituição - e é isso que estou chamando de etiqueta. Acredito que é necessário criar e usar normas de convivência que sejam conhecidas e respeitadas por funcionários, alunos e pais. Afinal, a existência de boas leis e de respeito às regras do jogo faz parte da democracia.

É possível citar alguns exemplos de bons rituais escolares?

MARIA HELENA São atitudes aparentemente rotineiras, mas de extrema importância para o ambiente escolar. Algumas delas são realmente bem simples. Por exemplo, quando, no início do ano letivo, o diretor prepara a recepção aos professores, abre as atividades com um discurso e estabelece uma interação com a equipe. Com isso, os docentes começam a sentir a boa integração do grupo e a maneira como o projeto pedagógico é compartilhado e ver que existe mediação entre todos. Também é um resgate do ritual escolar comemorar os momentos de formatura das turmas e organizar cerimônias em homenagem aos professores que se aposentam ou se destacaram em algum projeto. Com isso, não quero dizer que o gestor tem de ser centralizador. Ao contrário, eu insisto no caráter participativo da atuação, que ajuda a criar um bom ambiente de trabalho. Afinal, todas as pesquisas de avaliação no Brasil e no exterior e o próprio Programa Internacional de Avaliação de Alunos - o Pisa - mostram que o clima da escola conta muito na aprendizagem.

E com relação aos alunos, como seriam esses rituais?

MARIA HELENA Organizar também uma recepção para eles no primeiro dia de aula certamente é um bom começo. Hoje, muitas instituições simplesmente abrem as portas e indicam à criança ou ao jovem a sala em que vai estudar. Às vezes, o aluno se apresenta apenas ao professor e só depois de muito tempo ele vai conhecer o diretor, quando cruza com ele eventualmente pelos corredores. Na verdade, os gestores deveriam conhecer todos os alunos e suas famílias, saber seus nomes e incentivar os professores e funcionários a fazer o mesmo.

Em que momento esses rituais se perderam no cotidiano escolar?

MARIA HELENA A escola sofreu um processo de desorganização com a expansão acelerada do ensino, especialmente nos últimos 15 ou 20 anos. As Secretarias de Educação em todo o país foram obrigadas a fazer concursos e ampliar o número de unidades com muita rapidez. Infelizmente, não houve tempo para refletir sobre as características institucionais das escolas, sobre o preparo e a formação que se esperava dos profissionais contratados. Esse quadro provocou uma desordem interna, que foi agravada pela crise de valores - um problema que, aliás, é da sociedade como um todo e não apenas da escola. Houve também a reforma da Previdência, em 1996, que resultou na aposentadoria de milhares de bons docentes, temerosos de perder direitos. Com isso, foram desfeitas equipes que eram unidas, permanentes e vinculadas à comunidade. Temos, agora, de trabalhar para reconstruir esses laços.

Como recuperar essa relação?

MARIA HELENA Além de melhorar os programas pedagógicos e investir em novas tecnologias educacionais, é preciso cultivar o respeito institucional perante a comunidade. No passado, o sistema tradicional atendia uma elite e tinha seus rituais, que garantiam o respeito da sociedade pela instituição escolar. A escola de hoje, que é formatada para receber a todos, também precisa deles.

Como a interação entre a escola e a comunidade se reflete na qualidade da Educação oferecida?

MARIA HELENA A coesão social e a Educação, tema bastante discutido no início dos anos 1990, foi retomado por Robert Putnam, professor da Universidade Harvard, em uma reunião de ministros da Educação de países integrantes da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) em Dublin, na Irlanda, em 2004. Putnam mostrou pesquisas sobre a relação entre os resultados do Pisa e de outras avaliações externas com graus elevados de coesão social e respeito à escola. É esse ponto que quero destacar ao me referir à etiqueta da escola. Não se trata de uma visão tradicionalista sobre a relação entre alunos e professores. O mesmo tema foi abordado no livro L’École ou la Guerre Civile, do professor universitário Philippe Meirieu e do jornalista Marc Guiraud, publicado em 1997, na França. A obra defende a necessidade de um novo contrato social. Para salvar a escola como instituição, os autores afirmam que é preciso voltar à questão dos valores e das regras a ser respeitadas, além de retomar a identidade do professor - que foi ameaçada, causando a perda da convicção sobre a importância desse profissional.

Esse resgate ajudaria a melhorar a indisciplina nas escolas?

MARIA HELENA Todos os depoimentos sobre violência batem nas mesmas teclas: "Chutei a cadeira porque o professor me desrespeitou", dizem os alunos. "Discuti com o aluno porque ele não presta atenção", reclamam os docentes. A escola não pode reproduzir situações que ocorrem em muitos lares e na sociedade em geral. Ela tem de criar mecanismos que garantam um clima interno de civilidade - até para servir como uma nova referência para seu público. Não há a possibilidade de um ambiente educativo funcionar bem se o aluno não tem consideração pelo professor e pela direção. O perfil de liderança do bom gestor é fortalecido quando ele constrói regras para garantir a boa convivência entre as partes.

Existem programas em redes públicas que incentivem a boa gestão?

MARIA HELENA No processo de avaliação de Minas Gerais, por exemplo, entram os indicadores de desempenho, de fluxo escolar e também os de qualidade da gestão. O estado tem um sistema misto de escolha do diretor. Faz-se uma prova, os selecionados recebem capacitação, apresentam um plano de trabalho e são eleitos pela comunidade escolar. O mandato pode ser renovado. Porém a cada três anos avalia-se a qualidade da gestão. Quando fui secretária de Educação do Distrito Federal, propus um modelo inspirado no de Minas. Até o momento da eleição, o processo é igual. Uma vez eleito, entretanto, o diretor assina um contrato e um termo de parceria com a Secretaria da Educação e a comunidade, representada por pais e professores. Se não cumprir o plano que apresentou, após três anos ele deixa a direção e volta para a sala de aula. Quem passa por esse processo assume um compromisso mais forte com a escola para transformá-la na melhor instituição possível.

De que forma os pais podem participar desse processo?

MARIA HELENA Para resgatar valores, é crucial organizar uma escola de pais, a maneira como ficou conhecido o espaço criado em algumas instituições para a discussão permanente entre a família e a equipe gestora. Nele, os pais são convidados a conhecer a escola e debater os principais problemas internos, as avaliações externas e o projeto pedagógico. Reunir os familiares com frequência ajuda a ampliar o universo cultural da família por meio de oportunidades de aprendizado. Exemplos: eles podem assistir a um filme ou a uma peça de teatro e depois discutir com os educadores ou ouvir uma palestra sobre sexo na adolescência, drogas e outros temas de interesse geral. Esses eventos são comuns nas boas escolas públicas e privadas, mas muitas vezes faltam onde são mais necessários: na periferia das grandes cidades, que enfrentam situações de extrema carência e onde alunos e professores estão mais expostos a situações externas de risco.

Existem exemplos de escolas de pais bem-sucedidas que tenham alcançado resultados concretos?

MARIA HELENA Há um ótimo exemplo na cidade de Nova York. O bairro do Harlem tinha os piores resultados educacionais e os mais altos índices de violência. Tanto o número de homicídios quanto o de uso de drogas despencaram após o início do trabalho da escola de pais em várias instituições de ensino, pois essa iniciativa aumentou a interação com a comunidade.

De quem deve ser a iniciativa de recuperar a etiqueta escolar?

MARIA HELENA Há 200 mil escolas públicas no Brasil. Não dá para imaginar que o Ministério da Educação sozinho, ou mesmo uma Secretaria de Educação, tenha condições de assumir esse papel por todas elas. Mas acredito que, partindo da supervisão do sistema, é possível orientar a construção de um processo de resgate de procedimentos que vão formar a etiqueta da escola e reforçar os laços de solidariedade e respeito entre gestores, professores, pais e alunos. Isso é importante para que a instituição enxergue os estudantes como alvo principal de seus objetivos e a comunidade perceba que a escola constitui o maior bem de uma política pública porque formará a próxima geração de cidadãos bem preparados.
 
Fonte: http://revistaescola.abril.com.br/gestao-escolar/diretor/maria-helena-guimaraes-preciso-cultivar-respeito-ambiente-escolar-539210.shtml